Frase da Semana:

"Não acredito nas coisas que sou capaz de fazer por dinheiro. Hoje, por exemplo, estou trabalhando."








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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Namoro em Extinção

Se você é deste século, já aprendeu que há duas tribos que definem o que é um relacionamento moderno.
Uma é a tribo dos ficantes:
O ficante é o cara que te namora por duas horas numa festa, isso se ele não tiver se inscrito no campeonato "Quem pega mais numa única noite", quando então ele será seu ficante por bem menos tempo - dois minutos - e irá à procura de outra para bater o próprio recorde.
É natural que garotos e garotas queiram conhecer pessoas, ter uma história, um romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas... esquece, não acho natural coisa nenhuma. Considero um desperdício de energia. Pegar sete caras. Pegar nove "mina". A gente está falando de quê, de catadores de lixo?
Pegar, pega-se uma caneta, um táxi, uma gripe. Não pessoas. Pegue-e-leve, pegue-e-largue, pegue-e-use, pegue-e-chute, pegue-e-conte-para-os-amigos. Pegar, cá pra nós, é um verbo meio cafajeste.
Em vez de "pegar", poderíamos adotar algum outro verbo menos frio. Porque, quando duas bocas se unem, nada é assim tão frio, na maioria das vezes este "não estou nem aí" é jogo de cena. Vão todos para a balada fingindo que deixaram o coração em casa, mas deixaram nada. Deixaram a personalidade em casa, isso sim.
No entanto, quem pode contra o avanço (??) dos costumes e contra a vulgarização do vocabulário? Falando em vocabulário, a segunda tribo a que me referia é a constituída pelos namoridos: a palavra mais medonha que já inventaram. Trata-se de um homem híbrido, transgênico. Em tese, ele vale mais do que um namorado e menos que um marido.
Assim que a relação começa, juntam-se os trapos e parte-se para um casamento informal, sem papel passado, sem compromisso de estabilidade, sem planos de uma velhice compartilhada - namoridos não foram escolhidos para virem a ser parceiros de artrite, reumatismo e pressão alta, era só o que faltava. Pois então. A idéia é boa e bastante prática. Só que o índice de príncipes e princesas virando sapo é alta, não evita-se o tédio conjugal (comuns a qualquer tipo de acasalamento sob o mesmo teto) e pula-se uma etapa quentíssima, a melhor que há.
Trata-se do namoro, alguns já ouviram falar. É quando cada um mora na sua própria casa e portanto possuem duas rotinas distintas e poucos horários para se encontrar, e este pouco ganha a importância de uma celebração. Namoro é quando não se tem certeza de nada, a cada dia um segredo é revelado, brotam informações novas de onde menos se espera. De manhã, um silêncio inquietante. À tarde, um mal-entendido. À noite, um torpedo reconciliador e uma declaração de amor.
Namoro é teste, é amostra, é ensaio, e por isso a dedicação é intensa, a sedução é ininterrupta, os minutos são contados, os meses comemorados, a vontade de surpreender não cessa - e é a única relação que dá o devido espaço para a saudade, que é fermento e afrodisíaco. Depois de passar os dias se vendo só de vez em quando, viajar para passar um fim de semana juntos vira o céu na terra: nunca uma sexta-feira nasce tão aguardada, nunca uma segunda-feira é enfrentada com tanta leveza.
Namoro é como o disco Sgt. Pepper's, dos Beatles: parece antigo e no entanto não há nada mais novo e revolucionário. O poeta Carlos Drummond de Andrade também é de outro tempo e é pra sempre e é ele que encerra esta crônica dando-nos uma ordem para a vida: "Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante".

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